A Sombra Assassina
Era
noite, estava escuro na floresta devido à falta de lua. Os batedores deviam
estar a cerca de 500 metros à frente, faziam uma fogueira e pelo barulho,
provavelmente bebiam. Não poderia haver
oportunidade melhor, pensou Dylan. A
noite está escura o suficiente para que eu me aproxime sem ser visto. Pensava
que ainda teria algumas horas até que o pequeno grupo, exceto as sentinelas,
estivesse dormindo. Essa seria a hora perfeita para atacar. Decidiu que devia
comer antes de atacar, já que teria tempo, e também tragaria a erva assassina
em maior quantidade, Dylan tinha começado a se habituar e gostar dos efeitos da
erva, assim como temia desde o começo. Tenho
que parar um pouco, pensou enquanto comia, esta será a ultima vez durante um bom tempo.
Dylan
estava praticamente invisível onde estava escondido, entre um entroncamento de
arvores que se amontoavam em volta umas das outras crescendo extremamente
juntas, se Dylan fosse um pouco mais gordo ou carregasse qualquer coisa mais do
que ele já levava consigo, não teria conseguido se esgueirar para o centro
desse entroncamento para esperar que o movimento no acampamento a frente
acalmasse. Terminou de comer e se entregou aos pensamentos e devaneios que a
erva tinha como efeito colateral, até que notou que o acampamento estava
silencioso.
Nesse
momento, colocou-se em estado de concentração e assim ficou por um longo tempo.
E então se levantou, uma sombra invisível, e correu levemente, seus passos
quase sobrenaturalmente silenciosos. Em cada uma de suas mãos carregava uma
adaga, na cintura levava uma espada curta mais duas adagas atadas em cada
perna. Parecia vestir-se de um pano grosseiro, porém do mais puro negro, algo
que nessa noite o ajudava a se tornar com as sombras. Ao se aproximar do
acampamento viu apenas um tenda grosseira com a entrada para o lado oposto ao
qual ele vinha. Perfeito, pensou. O
restante dos soldados se aglomerava à frente dessa tenda. Havia 5 sentinelas ao
todo, que pareciam estar fracamente protegidas, 3 usavam como proteção apenas uma
cota de malha e se armavam com espadas, os outros nem mesmo se preocuparam em
usar a cota de malha e carregavam, cada um, um machado de batalha.
Dylan
percebeu que não seria fácil se aproximar sem ser visto devido à proximidade
das sentinelas, resolveu esperar até que fossem patrulhar o outro lado do
acampamento para tentar gerar uma distração que fizesse com que se dispersassem
o máximo possível sem acordar os demais. Sentiu falta de seu arco, poderia
mata-los antes mesmo de saberem de onde as flechas estavam vindo, porém o havia
perdido em sua ultima missão e ainda não tivera tempo de confeccionar um novo.
Cerca
de um quarto de hora depois houve uma mudança na formação das sentinelas, ficou
um em cada canto do acampamento e o ultimo patrulhando a trilha que daria
diretamente ao lado de onde Dylan se escondia. Pela forma como se posicionavam eles só tinham
visão das sentinelas que estavam à frente, sem ter visão das que estavam a seu
lado, poderia matar um por um sem que fosse visto, mas teria que ser extremamente
silencioso e rápido, pois qualquer grito acordaria o restante dos homens e ele
ficaria com sérios problemas. Também havia a questão dos cadáveres, se uma das
outras sentinelas os vissem seria o suficiente para acabar com as suas chances
de sucesso.
O
primeiro homem, aquele que patrulhava a trilha, estava à cerca de 5 metros de
Dylan quando fez a volta para retornar ao acampamento, nesse momento Dylan saiu
do meio das arvores onde se encontrava e moveu-se rápida, mas silenciosamente
por trás de sua primeira vitima, embainhou uma de suas adagas de volta à
cintura e correu levemente para seu alvo, ao alcança-lo moveu-se tão rápido que
sua vitima nem mesmo teve tempo de se perguntar o que estava acontecendo. Com
um movimento rápido e preciso Dylan tampou a boca do homem com a mão esquerda,
enquanto com a direita guiava sua adaga para o fundo da garganta do homem.
Sentiu a lamina raspar em ossos e nervos enquanto rasgava a garganta do homem
da esquerda para direita. Esperou que o homem parasse de se debater e o deitou
cuidadosamente no chão, para que se entregasse aos braços frios da morte.
Continuou
se movendo em direção ao acampamento sabendo que o menor erro significaria o
fracasso de sua missão, e muito provavelmente custaria sua vida. Ao se aproximar
das outras sentinelas viu que se enganara ao pensar que estes usavam apenas
cota de malha, viu que também se equipavam com gorjais. Nesse momento embainhou
a segunda adaga e puxou a espada curta. Parou por um momento para observar as
sentinelas que se postavam a frente das suas próximas vitimas para se
certificar de que se encontravam de costas para eles, quando teve essa certeza
voltou a se mover em direção aos dois homens posicionados em lados opostos da
tenda, talvez fosse o momento mais critico da noite e sentiu o nervosismo se
espalhar dentro de si. Calmo como águas
paradas, pensou lembrando de seu treinamento. Continuou seu caminho até
estar suficientemente próximo de seu alvo. Ao se colocar exatamente atrás do
homem o silenciou com a mão esquerda, assim como fizera com o outro e
trespassou o coração do homem com sua espada, o homem deixou essa vida sem
fechar os olhos e com uma expressão de terror estampada em sua face. Dylan
fechou os olhos do homem e deu a volta na tenda para pegar o próximo homem também
pela retaguarda, quando viu que os dois homens à frente estavam se aproximando
um do outro até ficarem lado a lado. Maldição,
pensou, pelo menos ainda estão cegos
em relação ao que acontece desse lado do acampamento. Por um momento pensou
em entrar na tenda sem matar aqueles dois, mas pensou melhor. Sabia que se os
dois homens à frente vissem os corpos ao lado da tenda teria uma surpresa
desagradável ao sair de lá.
Embainhou
a espada e correu em direção ao homem à sua frente, agarrou seu rosto e o torceu
com tanta violência que temeu que o barulho feito a quebrar seu pescoço
chamasse atenção dos guardas à frente. Esperou um momento até ter certeza de
que eles não tinham ouvido nada, quando nada fizeram além de conversarem aos
sussurros Dylan desembainhou uma das adagas que trazia embainhada em sua coxa.
Era uma adaga de arremesso, estava extremamente afiada e era altamente
pontiaguda, de modo que possibilitasse a perfuração do alvo. Mesmo com uma arma
tão precisa e letal, sabia que não podia se dar o luxo de errar o alvo. Então
concentrou-se de tal forma que parecia não haver nada ao seu redor além do
homem que estava a cerca de 10 metros à sua frente. Mirou, como se sua vida
dependesse daquele arremesso, e provavelmente dependia. Arremessou a adaga e antes
mesmo de ver se havia acertado o alvo desembainhou as duas adagas que trazia à
cintura e correu. Quando o primeiro homem caiu a garganta do segundo já tinha
uma fenda tão grande aberta pelas adagas de Dylan, que seria possível colocar a
mão de um homem facilmente em seu interior.
Dylan
levantou-se e olhou em volta, todo o acampamento ainda dormia à sua volta.
Poderia mata-los todos antes de entrar na tenda e ninguém lhe ofereceria
resistência. Mas suas ordens não eram essas, esses homens estavam apenas
seguindo ordens, assim como ele, e não gostaria de derramar sangue
desnecessariamente.
Embainhou
as adagas e recolheu aquela que estava firmemente encravada na cabeça do homem
que jazia ao seu lado. Deu mais uma olhada no acampamento, até sua visão recair
sobre a tenda. Agora sabia que nada mais o deteria, teria mais uma missão
cumprida ao chegar em casa e mais ouro para gastar. Talvez cobrasse um pouco
mais caro para que pudesse viver bem durante o tempo em que faria uma pausa em
suas atividades assassinas. Começou a andar lentamente em direção à tenda,
sentindo os efeitos da erva ficarem mais fracos, preciso me apressar.
Quando
entrou na tenda a primeira coisa que viu foi uma bela armadura prateada, sem
nenhum defeito em seu aço bem polido, com o peitoral cravejado de rubis e
safiras, tinha pequenos ornamentos em volta dos braços que formavam uma
pequena, mas majestosa águia em pleno voo, o símbolo da família Black Eagle. O
dono de tal armadura encontrava-se deitado logo atrás dela, provavelmente tendo
algum sonho de gloria e guerra, ao seu lado repousava uma espada. Aqui temos um homem que tenta não se
descuidar ao dormir, pensou Dylan, mas
você se entregou demais ao sono Bryan, e isso vai custar sua vida.
Dylan
desembainhou a espada e se aproximou de Bryan Black Eagle, herdeiro de sua
família e líder do exercito que levava à capital do reino para propagar uma rebelião, Bryan era conhecido
por ser um exímio esgrimista e ainda melhor batedor, mas Dylan duvidava de tais
habilidades. Se fosse um bom batedor
jamais deixaria que o sono tomasse conta de seu corpo e mente dessa forma. Ajoelhou-se
ao lado de Bryan e pôs gentilmente a mão em sua boca e a ponta da espada em seu
peito. Ao sentir o frio do aço tocar em sua pele Bryan acordou, e se
aterrorizou ao ver que havia em sua tenda um homem prestes a tirar sua vida. A
expressão em seu rosto só exibia uma coisa: pavor, era nítido em sua
expressão o pedido de misericórdia. Provavelmente
não era assim que esperava morrer, pensou Dylan antes de abrir a boca e
dizer em uma voz quer era pouco mais que um sussurro grave:
-
Bryan Black Eagle, você é acusado de reunir um exercito e marchar diretamente
contra Chaos City, capital do reino e local de moradia do rei. Tal ato foi
considerado alta traição e pelo poder à mim concedido pela coroa, eu Dylan
Shadow o sentencio a morte. Que seus Deuses tenham piedade de sua alma.
Ao
terminar de falar Dylan trespassou suavemente sua espada pelo peito do homem,
até sentir que atingia o chão e esperou pacientemente o pequeno momento em que
a vida deixou o corpo do traidor. Levantou-se e saiu da tenda, cerca de uma
hora depois todo o acampamento estava em polvorosa com a morte de 5 homens e do
líder de seu exercito.
Até
que alguém na multidão dissesse: - Eu vi! Vi em meus sonhos que todos seríamos
engolidos por uma sombra que nada deixava atrás de si além de morte. É um sinal
dos deuses para recuarmos, ou o mesmo acontecerá conosco, isso só pode ter sido
obra das sombras comandadas pelos deuses.
Dylan
estava em um galho alto de uma arvore a alguns metros dali e não pode deixar de
rir ao ouvir aquilo e pensar: Parece que
realmente os deuses tem um papel no mundo, assim como certos espiões: cegar os
mais fracos.
Conto por: Luiz Felipe
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