A Sombra Assassina

6:33 PM Unknown 0 Comments



Era noite, estava escuro na floresta devido à falta de lua. Os batedores deviam estar a cerca de 500 metros à frente, faziam uma fogueira e pelo barulho, provavelmente bebiam. Não poderia haver oportunidade melhor, pensou Dylan. A noite está escura o suficiente para que eu me aproxime sem ser visto. Pensava que ainda teria algumas horas até que o pequeno grupo, exceto as sentinelas, estivesse dormindo. Essa seria a hora perfeita para atacar. Decidiu que devia comer antes de atacar, já que teria tempo, e também tragaria a erva assassina em maior quantidade, Dylan tinha começado a se habituar e gostar dos efeitos da erva, assim como temia desde o começo. Tenho que parar um pouco, pensou enquanto comia, esta será a ultima vez durante um bom tempo.
Dylan estava praticamente invisível onde estava escondido, entre um entroncamento de arvores que se amontoavam em volta umas das outras crescendo extremamente juntas, se Dylan fosse um pouco mais gordo ou carregasse qualquer coisa mais do que ele já levava consigo, não teria conseguido se esgueirar para o centro desse entroncamento para esperar que o movimento no acampamento a frente acalmasse. Terminou de comer e se entregou aos pensamentos e devaneios que a erva tinha como efeito colateral, até que notou que o acampamento estava silencioso.


Nesse momento, colocou-se em estado de concentração e assim ficou por um longo tempo. E então se levantou, uma sombra invisível, e correu levemente, seus passos quase sobrenaturalmente silenciosos. Em cada uma de suas mãos carregava uma adaga, na cintura levava uma espada curta mais duas adagas atadas em cada perna. Parecia vestir-se de um pano grosseiro, porém do mais puro negro, algo que nessa noite o ajudava a se tornar com as sombras. Ao se aproximar do acampamento viu apenas um tenda grosseira com a entrada para o lado oposto ao qual ele vinha. Perfeito, pensou. O restante dos soldados se aglomerava à frente dessa tenda. Havia 5 sentinelas ao todo, que pareciam estar fracamente protegidas, 3 usavam como proteção apenas uma cota de malha e se armavam com espadas, os outros nem mesmo se preocuparam em usar a cota de malha e carregavam, cada um, um machado de batalha.

Dylan percebeu que não seria fácil se aproximar sem ser visto devido à proximidade das sentinelas, resolveu esperar até que fossem patrulhar o outro lado do acampamento para tentar gerar uma distração que fizesse com que se dispersassem o máximo possível sem acordar os demais. Sentiu falta de seu arco, poderia mata-los antes mesmo de saberem de onde as flechas estavam vindo, porém o havia perdido em sua ultima missão e ainda não tivera tempo de confeccionar um novo.

Cerca de um quarto de hora depois houve uma mudança na formação das sentinelas, ficou um em cada canto do acampamento e o ultimo patrulhando a trilha que daria diretamente ao lado de onde Dylan se escondia. Pela  forma como se posicionavam eles só tinham visão das sentinelas que estavam à frente, sem ter visão das que estavam a seu lado, poderia matar um por um sem que fosse visto, mas teria que ser extremamente silencioso e rápido, pois qualquer grito acordaria o restante dos homens e ele ficaria com sérios problemas. Também havia a questão dos cadáveres, se uma das outras sentinelas os vissem seria o suficiente para acabar com as suas chances de sucesso.
O primeiro homem, aquele que patrulhava a trilha, estava à cerca de 5 metros de Dylan quando fez a volta para retornar ao acampamento, nesse momento Dylan saiu do meio das arvores onde se encontrava e moveu-se rápida, mas silenciosamente por trás de sua primeira vitima, embainhou uma de suas adagas de volta à cintura e correu levemente para seu alvo, ao alcança-lo moveu-se tão rápido que sua vitima nem mesmo teve tempo de se perguntar o que estava acontecendo. Com um movimento rápido e preciso Dylan tampou a boca do homem com a mão esquerda, enquanto com a direita guiava sua adaga para o fundo da garganta do homem. Sentiu a lamina raspar em ossos e nervos enquanto rasgava a garganta do homem da esquerda para direita. Esperou que o homem parasse de se debater e o deitou cuidadosamente no chão, para que se entregasse aos braços frios da morte.

Continuou se movendo em direção ao acampamento sabendo que o menor erro significaria o fracasso de sua missão, e muito provavelmente custaria sua vida. Ao se aproximar das outras sentinelas viu que se enganara ao pensar que estes usavam apenas cota de malha, viu que também se equipavam com gorjais. Nesse momento embainhou a segunda adaga e puxou a espada curta. Parou por um momento para observar as sentinelas que se postavam a frente das suas próximas vitimas para se certificar de que se encontravam de costas para eles, quando teve essa certeza voltou a se mover em direção aos dois homens posicionados em lados opostos da tenda, talvez fosse o momento mais critico da noite e sentiu o nervosismo se espalhar dentro de si. Calmo como águas paradas, pensou lembrando de seu treinamento. Continuou seu caminho até estar suficientemente próximo de seu alvo. Ao se colocar exatamente atrás do homem o silenciou com a mão esquerda, assim como fizera com o outro e trespassou o coração do homem com sua espada, o homem deixou essa vida sem fechar os olhos e com uma expressão de terror estampada em sua face. Dylan fechou os olhos do homem e deu a volta na tenda para pegar o próximo homem também pela retaguarda, quando viu que os dois homens à frente estavam se aproximando um do outro até ficarem lado a lado. Maldição, pensou, pelo menos ainda estão cegos em relação ao que acontece desse lado do acampamento. Por um momento pensou em entrar na tenda sem matar aqueles dois, mas pensou melhor. Sabia que se os dois homens à frente vissem os corpos ao lado da tenda teria uma surpresa desagradável ao sair de lá.

Embainhou a espada e correu em direção ao homem à sua frente, agarrou seu rosto e o torceu com tanta violência que temeu que o barulho feito a quebrar seu pescoço chamasse atenção dos guardas à frente. Esperou um momento até ter certeza de que eles não tinham ouvido nada, quando nada fizeram além de conversarem aos sussurros Dylan desembainhou uma das adagas que trazia embainhada em sua coxa. Era uma adaga de arremesso, estava extremamente afiada e era altamente pontiaguda, de modo que possibilitasse a perfuração do alvo. Mesmo com uma arma tão precisa e letal, sabia que não podia se dar o luxo de errar o alvo. Então concentrou-se de tal forma que parecia não haver nada ao seu redor além do homem que estava a cerca de 10 metros à sua frente. Mirou, como se sua vida dependesse daquele arremesso, e provavelmente dependia. Arremessou a adaga e antes mesmo de ver se havia acertado o alvo desembainhou as duas adagas que trazia à cintura e correu. Quando o primeiro homem caiu a garganta do segundo já tinha uma fenda tão grande aberta pelas adagas de Dylan, que seria possível colocar a mão de um homem facilmente em seu interior.

Dylan levantou-se e olhou em volta, todo o acampamento ainda dormia à sua volta. Poderia mata-los todos antes de entrar na tenda e ninguém lhe ofereceria resistência. Mas suas ordens não eram essas, esses homens estavam apenas seguindo ordens, assim como ele, e não gostaria de derramar sangue desnecessariamente.

Embainhou as adagas e recolheu aquela que estava firmemente encravada na cabeça do homem que jazia ao seu lado. Deu mais uma olhada no acampamento, até sua visão recair sobre a tenda. Agora sabia que nada mais o deteria, teria mais uma missão cumprida ao chegar em casa e mais ouro para gastar. Talvez cobrasse um pouco mais caro para que pudesse viver bem durante o tempo em que faria uma pausa em suas atividades assassinas. Começou a andar lentamente em direção à tenda, sentindo os efeitos da erva ficarem mais fracos, preciso me apressar.

Quando entrou na tenda a primeira coisa que viu foi uma bela armadura prateada, sem nenhum defeito em seu aço bem polido, com o peitoral cravejado de rubis e safiras, tinha pequenos ornamentos em volta dos braços que formavam uma pequena, mas majestosa águia em pleno voo, o símbolo da família Black Eagle. O dono de tal armadura encontrava-se deitado logo atrás dela, provavelmente tendo algum sonho de gloria e guerra, ao seu lado repousava uma espada. Aqui temos um homem que tenta não se descuidar ao dormir, pensou Dylan, mas você se entregou demais ao sono Bryan, e isso vai custar sua vida.

Dylan desembainhou a espada e se aproximou de Bryan Black Eagle, herdeiro de sua família e líder do exercito que levava à capital do reino para  propagar uma rebelião, Bryan era conhecido por ser um exímio esgrimista e ainda melhor batedor, mas Dylan duvidava de tais habilidades. Se fosse um bom batedor jamais deixaria que o sono tomasse conta de seu corpo e mente dessa forma. Ajoelhou-se ao lado de Bryan e pôs gentilmente a mão em sua boca e a ponta da espada em seu peito. Ao sentir o frio do aço tocar em sua pele Bryan acordou, e se aterrorizou ao ver que havia em sua tenda um homem prestes a tirar sua vida. A expressão em seu rosto só exibia uma coisa:  pavor, era nítido em sua expressão o pedido de misericórdia. Provavelmente não era assim que esperava morrer, pensou Dylan antes de abrir a boca e dizer em uma voz quer era pouco mais que um sussurro grave:

- Bryan Black Eagle, você é acusado de reunir um exercito e marchar diretamente contra Chaos City, capital do reino e local de moradia do rei. Tal ato foi considerado alta traição e pelo poder à mim concedido pela coroa, eu Dylan Shadow o sentencio a morte. Que seus Deuses tenham piedade de sua alma.

Ao terminar de falar Dylan trespassou suavemente sua espada pelo peito do homem, até sentir que atingia o chão e esperou pacientemente o pequeno momento em que a vida deixou o corpo do traidor. Levantou-se e saiu da tenda, cerca de uma hora depois todo o acampamento estava em polvorosa com a morte de 5 homens e do líder de seu exercito.
Até que alguém na multidão dissesse: - Eu vi! Vi em meus sonhos que todos seríamos engolidos por uma sombra que nada deixava atrás de si além de morte. É um sinal dos deuses para recuarmos, ou o mesmo acontecerá conosco, isso só pode ter sido obra das sombras comandadas pelos deuses.

Dylan estava em um galho alto de uma arvore a alguns metros dali e não pode deixar de rir ao ouvir aquilo e pensar: Parece que realmente os deuses tem um papel no mundo, assim como certos espiões: cegar os mais fracos.


Conto por: Luiz Felipe


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